sexta-feira, 16 de maio de 2014

Uma Lição de Dona Pornografia

- Com licença! disse Seu Erotismo educadamente!
- Sim? reagiu Dona Pornografia virando-se para aquele às suas costas.
- A Senhora está na fila? Vai entrar nesta obra?
- Claro que vou! Mas só depois da Senhorita Inspiração chegar! Até lá ficamos aqui esperando nesta merda de fila!
- Oh! compreendo! disse Seu Erotismo.
- E você? perguntou a senhora passando os olhos de cima a baixo pelo recém-chegado. Vai participar também?
- Se me for permitido, sim.
- Sei! fez Dona Pornografia lançando um olhar de leve desprezo ao empertigado senhor, e virou-lhe a cara.
Após alguns minutos de pacífica espera na fila, a bela senhora se vira e indaga:
- É impressão minha ou o senhor está cheirando meu cangote?!
- Como? Não entendi!
- O senhor sabe muito bem do que estou falando! Está fungando no meu cangote desde que chegou! Pensa que não notei?
- Ah! Por favor, minha Senhora! Eu jamais cometeria tal indelicadeza com dama tão...tão...
- Cheirosa, né? Conheço teu tipo, viu! Sonso! disse ela e virou-se bruscamente, mostrando-se ofendida.
- De fato seu perfume é inebriante, delicioso, mas eu jamais ousaria! defendeu-se Seu Erotismo, porém aproximando-se tanto que a dama reagiu:
- Agora o senhor está quase me encoxando! Quer se afastar um pouco mais, por favor?!
- Perdão! Não foi por querer!
- Safado!
- O que disse?!
- Nada! Pronto! Olha aí ela chegando finalmente! A Musa metida! Se faz de difícil, mas sempre aparece! Eh! Cu doce!
- É esta a Inspiração? perguntou sussurrando Seu Erotismo, observando a linda moça passar altiva, nariz empinado, sem olhar pra ninguém.
- Claro! Não a conhece?
- Não tenho certeza, respondeu Seu Erotismo. Não sou muito de reparar em detalhes físicos!
- Ela se acha muito importante, mas eu lhe garanto que eu sozinha sou capaz de dar conta do serviço! Ah! se dou! vangloriou-se Dona Pornografia.
- Não duvido! Creio que a Senhora possui predicados o suficiente para tanto!
- Hum! que galante! por acaso está me cantando, é? perguntou sorridente e lisonjeada.
- De forma alguma! Foi apenas um elogio!
- Apesar da pinta de viado, até que o senhor tem lá seu charme, viu!
- Ha! Senhora! que senso de humor!
- Senso de humor nada! Sou franca! Mas me diga, o que achou de mim de verdade, hein? perguntou ela abrindo um sorriso convencido e passando as mãos ao longo de si mesma.
- Como assim?!
- Arrrr! não se faça de santinho! O Senhor já me cheirou, já me encoxou, já me xavecou e ainda fica com essa cara de inocente?! Por que não admite logo que me achou gostosa e que ficou com tesão por mim?
- Seria rude da minha parte falar-lhe tal coisa!
- Ficou de pau duro quando me viu, não ficou, hein! fala, safado!
- Senhora! Por favor! protestou seu Erotismo chocado com aquelas palavras.
Dona Pornografia, porém, já estava empolgada demais pra se conter.
- Hum! Adoro os tímidos, sabia? E você aí todo vermelhinho me deixa toda molhadinha!
- Mas me diga, desconversou Seu Erotismo, temendo um vexame em local público. O que a Senhora vai fazer nesta obra?
- Ora! o que mais, menino?! Provocar muito tesão! Fazer muita gente gozar à doidada por aí! Vai ser uma putaria só! Ah! já estou até vendo as polêmicas na mídia também! E o Senhor vai ver como isso aqui vai vender como água! É só a gostosa aqui entrar! Me aguardem!
- Não duvido!
- E você? quis saber ela. Como gosta de atuar?
- Não sei ao certo. Mas me agrada o papel de excitar as gentes.
- Ah! é do ramo da sacanagem também, é, cachorro? perguntou ela voltando a sorrir marotamente e dando uma leve cotovelada nas costelas do vizinho.
- Não é bem por aí! Estou mais para a área artística, respondeu ele num tom um tanto soberbo que desagradou Dona Pornografia.
- Ora! Mas se o Senhor mesmo acabou de me dizer que gosta de dar tesão nas pessoas! Somos do mesmo ramo, ora bolas!
Seu Erotismo sorriu. Definitivamente sua nova amiga estava enganada. Ele atuava numa área um pouco mais nobre. Era um trabalho muito mais refinado, de mais bom-gosto.
- De mais bom-gosto?! Então o que eu faço é de mau-gosto? Por acaso o Senhor está me chamando de vulgar, é isso?
- De forma alguma! desculpou-se Seu Erotismo. É que eu costumo atuar em obras um pouco mais sofisticadas, se é que me entende. Já a Senhora...
- A Senhora o quê?! Vamos! Complete sua frase! ordenou a dama já num avançado estado de irritação e despeito.
- Não me leve a mal, mas, pelo que entendi, as obras de que a Senhora participa são por demais apelativas e comerciais. Não possuem a mesma nobreza daquelas em que me apresento, compreende?
- Então o Senhor trabalha pra Caridade? É alguma ONG sem fins lucrativos?! Suas obras também não dão tesão e são vendidas?!
Seu Erotismo ia abrir a boca pra dar uma resposta a sua interlocutora, mas deteve-se, perplexo. Não sabia o que responder.
- Sabe que eu nunca tinha parado para pensar nisso, Senhora?! disse ele levando a mão ao queixo e fazendo uma cara de quem reflete sobre uma questão profunda.
- Pro Senhor ver que não sou tão burra e vulgar! Nem o Senhor tão nobre assim!

2 comentários:

  1. Impecável como sempre. Já te disse que adoro esse seu jeito de escrever... Esse humor...
    Beijos e felicidades sempre.

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    1. Obrigado pelo comentário! Mas não sei quem você é. Faltou se identificar.

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